12/11/2016

(Distimia, fobia, empatia)

A distimia, a fobia e a empatia
- © Lenise M. Resende -

Descrito como um romance psicológico sobre a distimia, o livro De Bem Com o Mal do Humor baseia-se nas memórias da autora e sua relação com essa doença. Portanto, quando na página 117 do livro a personagem diz: "Já tive uma longa fase de depressão maior, mas eu era bem mais independente e ativa do que atualmente. Por pior que eu estivesse conseguia sair de casa, e sozinha. O isolamento e a dificuldade para sair são características da fobia social. Depois que a fobia cresceu, raramente saio de casa e, mesmo assim, quando sou obrigada.", ela narra a ocorrência simultânea de dois transtornos: a distimia e a fobia social. E, tanto a distimia como a fobia social, são transtornos reconhecidos como altamente incapacitantes, que frequentemente restringem as atividades sociais dos portadores.

Em geral, as pessoas que já leram o livro, percebem que, assim como a personagem, a autora tem uma vida social tão reduzida que, se não fosse a internet, seria inexistente. Mesmo assim, algumas pessoas parecem imaginar esses transtornos como algo menor ou passageiro, e indagam se haverá um evento para o lançamento do livro ou uma noite de autógrafos. Quando ficam sabendo os motivos para que isso não aconteça, em geral reagem citando razões que, na opinião deles, justificariam esse "sacrifício". Só que nenhuma delas consegue ser mais importante do que a saúde emocional de uma pessoa.

Como a negação de uma doença é uma das várias formas de preconceito, fico em dúvida se seria este o problema, ou se seria falta de empatia e compreensão. Segundo o psicólogo americano Lauren Wispe, "o objeto da empatia é a compreensão, e o objeto da simpatia é o bem-estar do outro." Quando tentamos compreender as situações do ponto de vista de outra pessoa nasce a empatia por ela, mesmo que não provoque o desejo de ajudá-la.

Apesar de saber da existência de diversos autores nacionais, também portadores de transtornos emocionais, que estão publicando de forma independente, espero que pelo menos as pequenas editoras não incluam entre suas exigências para publicação de um livro, que o autor concorde em participar de um evento desses. Seria tornar o mercado editorial ainda menor para pessoas que já enfrentam dificuldades em outras áreas da vida, além da profissional.

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Nota 1 - Crônica filosófica (reflexão a partir de um fato ou evento)
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Nota 2 - Para enriquecer estas linhas, coloco na sequência uma frase sobre Dalton Trevisan, escritor que não é dado a entrevistas, não gosta de tirar fotos, e de comparecer em eventos: "Quando crescer, como escritora, quero ser um Dalton Trevisan. Não para escrever igualzinho a ele, mas para poder ser escritora, somente." (Lenise M. Resende, em Desafio Dalton Trevisan do grupo Scripto de oficina literária, maio de 2005)
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