20/07/2015

(Triste alegria)

 
Triste alegria
- © Lenise M. Resende -
 
Nos momentos em que a mente e o físico dão um descanso, e a vida colabora com um pouco de tranquilidade, chego a pensar que estou curada da depressão crônica. Chego a pensar que estou me tornando uma pessoa mais alegre e descontraída. Puro engano! A aparente solidez desse sentimento de contentamento é traiçoeira.
 
Como é triste essa minha alegria! Ela é tão frágil, delicada e fugaz. A alegria do portador de distimia é semelhante ao gelo fino que se forma sobre um lago congelado, e se rompe quando submetida a qualquer pressão. É apenas uma casquinha fina que encobre a tristeza, a ferida que nunca cicatriza.
 
Como é espaçosa essa doença! Por algum tempo sou até capaz de esquecê-la, mas ela está sempre presente aguardando um momento propício para se mostrar. E quando reaparece traz na bagagem o mau-humor, a irritação, a impaciência, e a lentidão no agir e no pensar.
 
Para espantar a tristeza, busco me alegrar com os motivos de quem estiver feliz ao meu lado, mesmo que eu precise dar uma forcinha para que isto aconteça. A felicidade e as demonstrações de alegria de quem está ao meu lado me faz bem!
 
No dia a dia aprecio demais a proximidade e o carinho daqueles que gosto. Mas nos dias "especiais", em que a distimia mostra seu poder destrutivo, viro bicho. Sou bicho preguiça, nos dias em que a lentidão e o sono dominam. Sou porco espinho, nos dias em que estou impaciente e irritada, e não quero ser tocada por ninguém.
 
Como é difícil escrever sobre esse assunto! O pior, quando se escreve sobre a distimia, não é a preocupação com a opinião dos outros. O pior é reler o que escrevemos, é ter que admitir que aquilo aconteceu conosco, que estamos relatando a nossa vivência. É preciso ter resignação - coragem e paciência - para aceitar que sofremos os efeitos dessa doença.

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Nota - A descrição dos sintomas da distimia baseia-se unicamente em auto-observação feita pela autora.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Maria paz disse...

Es maravilloso como has desrito la verdad de una enfermedad que llevamos encima del alma para toda la vida. Ser distimico no es facil, vivir con la distmia tampoco, pero con tus hermosas palabras y descripciones de como nos sentimos y como es nuestra vida hace mas llevadero en cierta manera la enfermedad. Gracias Lenise por compartir tu sentir.

domingo, fevereiro 03, 2013

Anônimo disse...

Antonio disse...

Lenise, adorei seu blog, saiba que vc foi muito sensível e exata ao definir como uma fina casca de gelo... porque é assim mesmo. Tênue, frágil, temporária... obrigado por compartilhar isso, vale muito!

quarta-feira, julho 17, 2013